Em dezembro de 2015 foi ratificado o primeiro acordo global juridicamente vinculativo sobre alterações climáticas, aprovado na 21ª sessão anual da Conferência das Partes da Convenção-Quadro das Nações Unidas sobre as Alterações Climáticas (COP 21) em Paris e adotado por 196 países. Apesar do evidente progresso na política climática internacional, as emissões globais de GEE têm aumentado todos os anos desde a crise financeira mundial em 2009. Percebe-se, contudo, que a taxa de crescimento das emissões não tem sido distribuída de forma geográfica e economicamente uniforme. De acordo com um estudo recente do Programa das Nações Unidas para o Ambiente (PNUMA), as emissões de CO2 das economias da OCDE diminuíram 0,4% ao ano na última década, enquanto as emissões das economias não-OCDE têm vindo a crescer cerca de 3% ao ano.

As estimativas de emissões de carbono fornecem uma visão mais profunda do papel do consumo e do comércio, e da interconectividade dos países. Através do mencionado relatório do PNUMA, nota-se que o fluxo líquido de carbono provém de países em desenvolvimento para países desenvolvidos, o que significa que, à medida que os países da OCDE reduzem as suas emissões territoriais, este efeito está sendo parcialmente compensado pela importação de carbono.

Estudos revelam que, entre 2008 e 2016, a quota das emissões de CO2 associadas às atividades e cadeias de abastecimento (supply chain) das empresas transnacionais nas emissões globais variou entre 19% e 22%. Em outras palavras, as transnacionais são responsáveis por quase um quinto das emissões de CO2 do planeta, o que mostra o importante papel que podem desempenhar na luta contra as mudanças climáticas, em especial na descarbonização das suas cadeias de abastecimento (utilizando energias com baixo teor de carbono ou fazendo parcerias com fornecedores com baixo teor de carbono).

As empresas transnacionais estão hoje envolvidas em diversas iniciativas multilaterais (seja em operações diretas, ou em supply chains) e o número de empresas empenhadas em autoregulação e investimentos climáticos tem crescido de forma constante. Hoje, mais da metade dos fluxos anuais de financiamento climático provêm do setor privado, onde as TNCs representam a maioria dos investimentos. Ou seja, atualmente, no que concerne as ações de mitigação do problema climático, o setor privado, particularmente as empresas transnacionais, estão na vanguarda em matéria de estratégias e ações em prol das mudanças climáticas.
Nesse cenário, as empresas transnacionais começaram a enxergar nas mudanças climáticas oportunidades para além dos riscos, criando motivações de lucro em relação as ações climáticas. Estas motivações, tais como eficiência energética e de recursos, pressões dos clientes, investidores e financiadores, entraves regulatórios, e aumento da reputação, visam minimizar as rupturas na produção e serviços da empresa, e aumentar a rentabilidade e a capacidade de fazer negócios.

Como exemplo, podemos citar a elaboração da declaração de compromisso para a redução do impacto ambiental do comércio eletrônico, incluindo compromissos relacionados à informação ao consumidor, embalagem, depósitos e entrega. Esta declaração foi assinada pela primeira vez em 28 de julho de 2021 entre o Ministério de Transição Ecológica, a Secretaria de Estado de Transição Digital e Comunicações Eletrônicas, a Federação de Comércio Eletrônico e Venda à Distância (FEVAD) e 14 grandes empresas de comércio on-line: Cdiscount, Ebay, Fnac- Darty, La Redoute, Maisons du Monde, Millet Mountain Group, Sensee, Otelo, Rakuten France SAS, Groupe Rosa, Sarenza, Showroomprivé, SOS accessoire e Veepee.

Em março de 2022, 18 empresas se comprometeram a reduzir o impacto ambiental de suas atividades de comércio eletrônico: Afibel, Agrizone, Blancheporte, Boulanger, Damart, E.Leclerc, Electro Dépôt, Fleurance Nature, FM Logistic, Kadolis, Leroy Merlin, Manutan, Mondial Relay, Quel Bon Plan, Sédagyl, Tikamoon, Topaz e Vitrine Magique. Essas empresas se comprometem assim a respeitar os dez compromissos concretos que estruturam a declaração, divididos em 3 pilares que lhes permitem reduzir seu impacto ambiental desde o ato da compra on-line até a entrega da encomenda:

- as empresas se comprometem a conscientizar os consumidores e informá-los sobre o impacto ambiental da entrega de suas compras, por exemplo, oferecendo-lhes vários métodos de entrega (a partir de 1 de janeiro de 2023), especificando a escolha que tem o menor impacto ambiental, ou ajudando-os a promover os melhores hábitos de encomenda para reduzir as devoluções,

- ao preparar o envio de embalagens, as empresas signatárias são convidadas a reduzir as embalagens e incentivar sua reutilização, por exemplo, eliminando o excesso de embalagens e utilizando embalagens adaptadas ao tamanho do produto, mas também dando preferência a embalagens feitas de materiais reciclados, recicláveis ou reutilizáveis,

- durante o armazenamento de pacotes e entrega, as empresas se comprometem a utilizar uma logística ecologicamente correta, por exemplo, agrupando o envio de produtos encomendados ao mesmo tempo pelo mesmo consumidor e promovendo o desenvolvimento de métodos de entrega com baixo teor de carbono.