No dia 24 de fevereiro de 2022 a Associação francesa para Controle da Radioatividade no Ocidente (ACRO) identificou, por meio de testes de laboratório, que a chuva de areia que atingiu a França no início do citado mês, continha partículas de Césio-137, ainda que em concentração abaixo do necessário para causar danos ser humano.

O Césio-137 é um isótopo radioativo do elemento químico césio (Cs). Ele é bastante perigoso para o ser humano porque emite partículas ionizantes e radiações eletromagnéticas capazes de atravessar vários materiais, incluindo a pele e os tecidos do corpo humano, interagindo com as moléculas do organismo e gerando efeitos catastroficos.

De acordo com a ACRO , o Césio 137 não é presente naturalmente nas areias do Saara. Essa contaminação radioativa seria resultado da poluição nuclear deixada pelos franceses na Argélia há 60 anos, época em que faziam testes nucleares no pais. Entre 1960 e 1966, autoridades coloniais francesas realizaram um total de 17 testes nucleares no Saara argelino.

Mas como foi possível o transporte dessas micropartículas da África até à Europa? Graças a tempestades de areia ocorridas no Saara que causaram uma maior concentração permitindo o transporte das partículas de Césio 137 em massa desde a região da Argélia até à Península Ibérica, o que deixou o céu de algumas cidades europeias com um tom alaranjado em meados do mês de março.

O que ficou invisível aos olhos nus, mas detectado pelos pesquisadores da ACRO, foi a presença do elemento químico nas pequenas partículas de poeira transportadas pelo vento do Saara em direção à Europa.

Seria a natureza levando de volta pra casa resquícios do lixo atômico deixado pelos europeus em solo africano?

De acordo com um comunicado emitido pela Associação “Esta poluição radioativa – ainda observável 60 anos após os lançamentos nucleares – recorda-nos a contaminação radioativa perene no Saara pela qual a França é responsável e sugere que as consequências devem ter sido particularmente elevadas durante a década de 1960”.

Em fevereiro de 2022, o brigadeiro-general argelino Bouzid Boufrioua já havia exortado a França a assumir a responsabilidade pelo lixo atômico deixado no Saara na década de 1960.

Importante lembrar que na última década a França começou a fazer reparações individuais por danos, se comprometendo a indenizar vítimas acometidas por câncer os quais estejam relacionados à contaminação por lixo radioativo em virtude de testes nucleares produzidos pelo país.

Embora o Governo francês tem dado mais atenção à este assunto na última década, ativistas antinuclear continuam a apontar que as medidas ainda são insuficientes.