Fatih Birol, diretor da Agência Internacional de Energia, estava no início da pandemia covid-19 preocupado com a idea de que esta retardaria a transição energética a nível mondial. Este abrandamento é realmente preocupante porque o desenvolvimento das energias renováveis ​​era, já antes da pandemia, muito insuficiente.

O confinamento e a desaceleração da economia global tiveram como efeito de reduzir significativamente o consumo de energia e as emissões de CO2. Mas isso também teve repercussões no desenvolvimento das chamadas "energias verdes".

Grande parte dos painéis fotovoltaicos são fabricados no Sudeste Asiático e a atividade caiu drasticamente nesta região por causa das medidas de confinamento.

A crise econômica que agora atinge a Europa e os Estados Unidos, principais consumidores de painéis solares, desacelerou as encomendas e as instalações de parques fotovoltaicos.

Essas mesmas constatações são aplicáveis ​​ao setor de energia eólica, para o qual os analistas preveem uma redução significativa nas instalações.

O desenvolvimento das energias renováveis ​​corre o risco de ficar ainda mais comprometido, pois a crise sanitaria também afetou a indústria dos combustíveis fósseis. O preço de venda dos hidrocarbonetos, principalmente do petróleo, caiu drasticamente. Esta queda nos preços pode levar alguns Estados a recorrer aos combustíveis fósseis em detrimento das energias renováveis.

Apesar das consequências negativas da pandemia covid-19 sobre a transição energética, esta pandemia terá acelerado o cancelamento por alguns Estados das suas centrais elétricas a carvão, uma importante fonte de poluição.

De fato, enquanto a União Europeia há muito tentava convencer a Polônia de desistir do carvão como principal fonte de energia, a crise sanitaria do coronavírus poderia ter sucesso onde a União falhou.

Em 3 de agosto, Jacek Sasin, Ministro polonês encarregado dos Ativos do Estado, declarou: "Dissemos que a política de saída do carvão era um erro. Hoje, por causa do que está acontecendo ao nosso redor, devemos revisar essas declarações ".

O comunicado foi divulgado depois do grupo PGG, principal produtor de carvão da Polônia, ter passado por graves dificuldades financeiras.

Na verdade, o grupo PGG e outras empresas polonesas de energia estão pedindo para reduzir seu consumo de carvão. Ese pedidose explica em primeiro lugar pelo alto custo da produção de eletricidade pelas fábricas de carvão. Por fim, as empresas produtoras de energia devem satisfazer os clientes que estão cada vez mais atentos à origem da eletricidade e que pedem energia "mais limpa".

Sem os múltiplos auxílios estatais, como adiamentos de prazos fiscais e sociais, compra pelo Estado polaco de combustíveis e ajudas excepcionais até 400 milhões de euros para combater as consequências económicas da crise sanitária, o grupo PGG certamente já teria falido.

A contaminação pelo covid-19 de milhares de mineiros levou ao fechamento temporário de metade das minas na Polônia. Apesar da cessação da atividade mineira, o stock de carvão do país não diminuiu significativamente, mostrando a sobreprodução de carvão e a saturação dos locais de armazenamento destes minerais.

Esses elementos levaram o governo polonês a questionar-se sobre o possível fechamento de fábricas de carvão. Esta iniciativa, tomada com objetivos econômicos e não como parte de um desenvolvimento sustentável, é no entanto, um início no processo de abandono do carvão.